domingo, 6 de junho de 2010

Sem asas.

Nos dias em que somos pássaros de papel sem asas – neva. Nos dias em que não sabemos o que somos nem os lugares que nos habitam – ouvem-se palavras como cânticos eternos; mendiga-se amor, ou pedaços do mesmo, ou do que se julga ser. E parecemos pedaços, de pedaços, já despedaçados, de pássaros que se perderam no outono, num dos outonos da vida. E quando já tarde, ou mesmo noite, nos encontramos nas folhas virgens que o outono esqueceu somos pedaços de pó que se ergue ao vento. Somos vontade, das vontades, de mais. E nas asas de gaivota que o tempo prende, nos galhos das árvores como quem esconde tesouros: às vezes se solta o choro. E choramos. Choramos sem saber de onde vem o choro. Sem saber por que são frios os invernos que trazemos em nós. Às vezes, só às vezes, somos um mundo tão longe, ainda que sejamos pássaros do mesmo céu.

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